domingo, 22 de setembro de 2013

Amanda cobra mais trabalho de vereadores e Luiz Almir se retira do plenário

Discussão foi causada pela proposta da Mesa Diretora de redução do recesso parlamentar de 60 para 45 dias

Por Ciro MarquesA Justiça do Trabalho exige um recesso mínimo de 30 dias por ano para um trabalhador “normal”, contudo, para o vereador, a realidade é bem diferente – e bem melhor. São 90 dias de “férias” e a simples possibilidade de redução desse tempo – e consequente aumento do trabalho do parlamentar – rendeu uma discussão “quente” na Câmara Municipal de Natal na tarde de hoje (19). Tão quente que o vereador Luiz Almir, um dos defensores do recesso de três meses, chegou a se retirar do plenário no meio da sessão.

Amanda Gurgel cobrou mais trabalho e menos 
recesso dos parlamentares (Foto:Wellington Rocha)
Luiz Almir foi seguido por vereadores de opiniões semelhantes como Aroldo Alves, do PSDB, e Hugo Manso, do PT. Por isso, a vereadora Amanda Gurgel decidiu dar sua contribuição no debate. Ressaltou a relação lógica de “diminuição de recesso = aumento do trabalho” e classificou como hipocrisia e demagogia esse discurso contrário a redução porque os vereadores utilizariam ele para trabalhar pela comunidade. “Vir aqui e falar que trabalha pela comunidade (como se fosse um grande esforço), ‘pela minha zona norte’… Quem não quer trabalhar pela comunidade com 15 mil no bolso e três meses de recesso?”, questionou a parlamentar.

Amanda Gurgel também propôs que os vereadores que dizem que trabalham em outros horários, quando não estão presentes na Câmara, que “oficializar isso”. Ou seja: coloquem no papel os horários e o local onde estão trabalhando, assim como todo trabalhador normal tem que fazer. Ou isso ou aceitar o recesso reduzido, como forma de se aproximar dos demais trabalhadores brasileiros.

Muito exaltado, Luiz Almir afirmou que diminuição do recesso
 não significa diminuição do trabalho (Foto: Wellington Rocha)
O posicionamento foi defendido por Marcos Antônio, do PSOL, que criticou os vários empregos que vereadores, como Luiz Almir, aceitam e, consequentemente, não aceitam a redução do recesso. “Tem três, quatro compromissos profissionais, quer abraçar o mundo com as pernas, aí vem falar isso”, afirmou ele, ressaltando que era preciso trabalhar mais “pela Câmara”.

Quando parecia que Luiz Almir ia aceitar aquilo calado, o vereador do PV pediu para falar novamente. “Dizer que eu não tenho tempo para trabalhar? Eu tenho, trabalho e vou continuar trabalhando”, afirmou o parlamentar, ressaltando que era um idoso e teria que ser respeitado naquela Casa ou “o cacete vai quebrar dentro dessa casa”.

Ao final do discurso alto e em bom som, ressaltando que não aceitaria ninguém fiscalizando o mandato dele ou o trabalho que ele faria “aqui ou ali”, Luiz Almir se levantou e exclamou: “Vou me retirar agora e quem achar que tem poder para evitar que isso aconteça, faça!”. Depois, deixou o plenário, arrancando alguns risos dos demais vereadores, surpresos pela atitude extrema.

“A Casa aqui não é para esse tipo de espetáculo”, comentou Marcos Antônio, não tão feliz pela atitude do colega parlamentar. “A gente tem que esquecer esse tipo de parlamentar. Saiba ele ou qualquer um aqui que não vai meter medo na gente não”, acrescentou. O projeto de redução do recesso deverá ser votado na próxima semana.

Sextas-feiras

É importante lembrar que esse não foi o primeiro debate sobre aumento da carga de trabalho dos vereadores que encontra resistência. Na Câmara, há outro projeto de alteração do regimento interno, proposto pelo vereador Dickson Nasser Júnior (PSDB), que acrescenta uma sessão nas sextas-feiras, além das tradicionais de terças, quartas e quintas-feiras.

A medida, porém, já foi alvo de críticas, pela mesma justificativa: o trabalho em outros locais e ouvindo a comunidade. Luiz Almir e Hugo Manso, por exemplo, questionaram a medida, mas o maior “critico” foi mesmo o Bispo Francisco de Assis, do PSB, que chegou a dizer que o projeto era pura “demagogia” e que era capaz de votar favorável unicamente para ver o parlamentar que o propôs faltar as sextas-feiras.

“Não é demagogia. Desde março eu estou propondo isso. Precisamos de mais sessões e não temos dinheiro para pagar horas extras para os servidores e ficarmos aqui discutindo até tarde da noite”, justificou Dickson Júnior. Esta medida não tem previsão para ser votada.

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